A avó de cabelos brancos e óculos na ponta do nariz que faz tricot e traz um xaile às costas desapareceu... É uma imagem ultrapassada, já repararam?
Apercebi-me deste facto de uma forma caricata quando, há alguns dias atrás cantei à minha filha (como em tantos outros dias desde que ela nasceu) a mesma canção que a minha avó me cantava para eu adormecer... Começava assim:
'De mãos enrugadas, já trementes
com as lunetas sobre o nariz
A minha avozinha, já sem dentes,
contava histórias que me faziam feliz'
A ideia de uma avó de mãos enrugadas e trementes fez-me, de repente, confusão... Pensei na minha mãe (cheia de energia para dar e vender), agora avó e apercebi-me que a letra desta canção não deve fazer sentido nenhum na cabeça da minha filha! Afinal, a avó dela (a minha mãe) não é de todo assim... Ou seja, o conceito de avó que hoje ela tem é, com certeza, muito diferente do meu...
A verdade é que esta 'avozinha' de mãos enrugadas, trementes e sem dentes já não existe... pelo menos no nosso mundo!
- As avós de hoje em dia são enérgicas, bonitas... novas! - pensei eu enquanto continuava a cantar.
Novas?! Mas... Antigamente, no tempo da minha avó, as mulheres tinham filhos cedo. Muito mais cedo do que hoje. Sem dúvida alguma, a maioria tinha o primeiro filho aos vinte ou vinte e poucos anos (no máximo). Ora, muito provavelmente as suas mães teriam tido o seu primeiro filho mais ou menos com a mesma idade (ou até mais cedo), logo seriam avós entre os 40 e os 45 anos, no máximo.
Hoje, se as mulheres adiam a maternidade para bem mais tarde (a maioria tem o 1º filho na casa dos 30, 35 anos - ou seja, cerca de 15 anos mais tarde do que 'era costume') não acham que as avós deveriam parecer ainda mais velhas do que 'dantes'? Mas não parecem! Em termos de idade até o podem ser... mas o aspecto não é de todo o de uma avó (ou pelo menos de uma avó do meu tempo)!
A verdade é que o aumento da esperança de vida roubou-nos as avós! Roubou-nos as avós desdentadas, de mãos trémulas e bengala. Hoje, temos avós dinâmicas, que fazem exercício, mantêm vidas activas e, apesar de continuarem a fazer comida e bolos deliciosos (ainda bem que alguma coisa ainda é o que era) são quase a antítese do que era ser avó na minha infância.
O conceito de avó de cabelos brancos, mãos trémulas e bengala - se pensarem bem - encaixa muito melhor nas bisavós de hoje...
Em Portugal, actualmente, a esperança média de vida de uma mulher é de 82,6 anos (81,7 anos na Europa)! E isto é apenas uma 'média'...
Lembram-se quando víamos os turistas ingleses e franceses, já reformados, e ficávamos espantados com a sua vitalidade? Pois... agora cá também é assim! E ainda bem...
Os nossos filhos ficaram a ganhar: agora têm avós e bisavós!!
Mas, sabem que mais? Apesar de tudo, vou continuar a cantar a mesma canção à minha filha... porque algumas coisas ainda são o que eram...!
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