As crianças de hoje, fruto da muita informação com que são bombardeados diariamente, têm cada vez mais argumentos para desconcertar pais indefesos... Ora vejam este exemplo...
A minha filha de sete anos ainda não adormece sozinha. Eu sei que a culpa também é minha... afinal, sempre a habituei a adormecer com companhia. Depois da leitura de uma história, ou eu ou o pai ficávamos no quarto, junto à cama dela, até que adormecesse.
Foi essa a rotina durante anos.
Mas, desde há algum tempo, que estou a tentar que, depois da leitura da história, ela fique sozinha no quarto e que seja capaz de adormecer sem companhia.
Ela resmunga sempre. Todas as noites.
O pior é que o processo demora algum tempo porque nos chama dez vezes (chamada a que respondemos sempre para que sinta que estamos por perto) e pede, com voz meiga, para ficarmos lá 'só um bocadinho'. Acaba por adormecer, fruto do cansaço. Às vezes, o cansaço é nosso e acabamos por ceder e ficar lá o tal bocadinho que tanto nos pede até que se acalme... depois lá fica sozinha outra vez, à espera que o sono se digne a aparecer.
Desenganem-se aqueles que pensam que estamos a lidar com os medos tradicionais... Para afugentar o escuro, conto com a colaboração de um pequeno abajour, que cumpre perfeitamente a sua missão. E, não...! O problema não são monstros debaixo da cama (nem em qualquer outra parte do quarto ou da casa), nem ladrões nem bichos, nem fantasmas. Ou talvez até sejam... mas nunca foram mencionados, mesmo quando lhe pergunto, durante o dia, a razão do seu desconforto na hora de dormir.
A explicação que ela apresenta é outra, é absolutamente racional e, até agora, não encontrei resposta à altura para tal argumentação!
O problema, segundo ela, é que se sente sozinha no quarto. E pergunta:
- Porque é que eu tenho de dormir sozinha, enquanto tu e o papá dormem um com o outro?
Ou então, de forma ainda mais assertiva e demolidora:
- Porque é que só eu é que durmo sozinha nesta casa?
Sendo ela filha única, tem razão no que pergunta.
De facto, eu durmo acompanhada.
O pai também.
Só ela é que dorme sozinha nesta casa.
Fico sem palavras porque, de facto, não sei como lhe responder. Uso os
mesmos argumentos de sempre: que está no quartinho dela, um quarto de princesinha, tão bonito...etc., etc. Mas, no fundo, sei que não lhe estou a responder a coisa nenhuma; estou apenas a desviar o assunto. Ela também o sabe. E, por isso, a pergunta vem outra vez, no dia seguinte, à mesma hora.E virá bater-me à porta até que eu tenha uma resposta satisfatória.
Sendo esta a geração dos filhos únicos, certamente que muitos pais lidam com a mesma argumentação noutras casas, por esse país fora. Fico muitas vezes a pensar: que respostas terão encontrado?
Dantes era diferente (ou não?). As crianças tinham irmãos e, das duas uma: ou partilhavam o quarto (e, por isso, não ficavam sozinhas), ou cada uma tinha o seu quarto mas, como o 'regime' era igual para as duas, era aceite sem hesitações!
Mas também havia filhos únicos... Será que os miúdos de antigamente - os da minha geração - faziam perguntas destas?
Há algum Mário Cordeiro desta vida que me ajude a encontrar uma resposta satisfatória para dar à minha filha?
Mamãe e papai, Se não conseguiram, irão conseguir. De fevereiro para cá, apostaria que conseguiram. AH, não tenho dicas, mas gostei de ler, e cliquei por gostar de... ah sei la...
ResponderExcluirSim, entretanto já adormece sozinha!! Sem dramas, nem medos, nem argumentações difíceis.
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